quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

De volta à vida

De volta à vida, girando num carrossel desse parque alucinante que me aprisiona impuro, estou aqui. Mas pisco, e já não estou mais. Uma luz me pinça para dentro dos meus pensamentos, e de perto vislumbro ideias que há muito foram concebidas, mas que permanecem amontoando a estante da teoria, enquanto a da prática continua empoeirada. Prossigo, e vejo pessoas. Elas sorriem, acenam, seus lábios se movem como um video sem áudio, seus gestos estão limitados por um ambiente iluminado e festivo, mas formal demais. Paredes elegantemente decoradas em tom de vinho nos cercam de maneira acolhedora. Não me dei conta, mas estou num salão. As idéias ficaram no quarto ao lado, mas a sensação é a mesma. Aquelas pessoas as estão alimentando. Todas sorrindo. Não mais. As luzes se apagam, mas ainda é possivel ver aquelas acusações me atravessando como flechas que, sem misericórdia, são disparadas contra mim. Caras fechadas são tudo que me resta agora, e os ataques continuam em minha direção. Palavras inaudíveis nunca doeram tanto, mas são verdade. Minha prática não condiz com minhas palavras e eu sempre soube disso. Esse pensamento me estilhaça e meu espírito sucumbe. Ajoelhado, recolho cada uma das acusações, e as guardo com estranho empenho. São cicatrizes que não quero que sarem. Guardo todas numa caixinha, e a envolvo com um laço de posse. Uma mão se estende para me levantar. Ao redor a sala está vazia, aliás, não há sala. O ambiente branco me atrapalha de enxergar a pequena criança que me ajuda. O pequeno filho, eu diria. Com carinho ele toma das minhas mãos a caixinha que guardo com tanto esmero. "Isso não te pertence mais", foram as primeiras e últimas palavras que ouvi desse filme mudo, quando abro os olhos e estou de volta à vida.

"Agradeço a Deus pela vida do meu amigo Foguinho, o qual foi com certeza um pequeno canal para que a pequena criança pudesse me levantar [mais uma vez]"