quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Amanhã

Lá se vai mais um dia. Com ele algumas dores, menos insistentes, e alguns conselhos, levianamente acatados. Amanhã porém vem um outro dia, assim espero, e com ele novas amizades. Neste dia fica o mestre, e amanhã nasce novamente o pupilo. Amanhã aprenderei a guardar, a esquecer, a ajudar, a receber. Amanhã aprenderei a amar. Amanhã, ah, o amanhã! Amanhã sorrirei. Talvez haverá choro, mas será pouco. Amanhã desejarei mais as coisas que já tenho, e verei novamente que nem tudo que quis hoje, vale a pena querer amanhã também. Amanhã aprenderei a dar valor! Isso é o que fica comigo hoje: A cada dia vivo mais! Alguns dizem que cada dia é um dia a menos de vida. Quanta bobagem... Cada dia é um dia a mais porque o Homem que conta os dias de todas as pessoas somou mais um aos nossos. Quanto privilégio! Em meio a tantas estrelas que se apagaram, nós continuamos brilhando. Como é bom saber isso, e é por essas e outras que amanhã será um bom dia! A cada dia eu aprendo mais. A cada aprendizado é mais uma surpresa, e a cada surpresa um novo suspiro. A cada suspiro me vem uma lembrança, e a cada lembrança tenho uma tristeza. A cada tristeza, um arrependimento. Mas a cada arrependimento tenho um novo perdão.

domingo, 24 de outubro de 2010

Outra loucura

É incrivel apenas imaginar que não podemos imaginar. Nunca será possível para a mente limitada do ser humano compreender toda a grandeza do infinito. Nossa mente, um conjunto finito, é limitada tanto pelo tempo, quanto pelo escasso raciocínio. Essa lógica presunçosa jamais compreenderá a ausência destas fronteiras. A majestade oculta no balançar das árvores, no migrar das aves, no rebento das ondas do mar, na dança arritmada da aurora polar, no furor dos ventos e na calma da brisa. Quem acorda o sol todas as manhãs? Quem, com carinhosa paciência, afaga a lua por todas as noites, para que apenas pela manhã ela repousasse? Que glória é esta que se manifesta à mim todos os dias, da qual não posso fugir? Onde está o homem que pintou todas aquelas flores? E de onde veio a tinta que cobriu o céu do ocidente ao oriente? E quem pode esboçar o degradê do entardecer antes que alguém perceba? Num piscar de olhos o mundo muda. O homem, pobre, tão limitado, insiste em despender sua frágil e curta vida a tentar entender o impossível, e talvez essa loucura seja sua única atitude de sabedoria. Tão única que sua busca se torna vã, pela maneira intanfil como a executa. As evidentes respostas são comumente descartadas pela sádica ciência, que rí-se da ingenuidade mortal. E diante desta cegueira prega peças, peças crueis com as mentes sinceras de homens que buscam saciar esta dúvida que o corrói. Estes, tão descartáveis peças neste jogo imortal, se enchem de glória, uma premiação tão fútil quanto sua própria existência. Tão rápidamente adquirida, tão rapidamente esquecida, esta glória passageira, com o tempo, não passa de nomes gravados em páginas de livros escolares, e ainda assim são buscadas freneticamente por aqueles que ainda não saciaram sua primitiva sede. Nunca irão. Aceite as verdades, mesmo que pareçam loucura. Antes uma verdade louca do que contos fantasiosos facilmente compreensíveis. Se despoje de seus paradigmas, eles se divertem na sua estagnação. Comprometa-se com a verdade, como a Sabedoria disse: ela o libertará! Somente aqueles que buscam sua cura com a simplicidade e humildade de sua ínfima limitação, alcançarão por fim a coroa incorruptível.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Se esqueça

Se esqueça de seus compromissos. Se esqueça de suas feições e afeições. Se esqueça do Amor e de seus tormentos. Se esqueça de seus carinhos e de seus sentimentos. Se esqueça de dar antes de receber e se esqueça do que é bom. Se esqueça de tudo o que te prende no passado e no porvir. Se esqueça de sorrir. Se esqueça de chorar e de se entregar, se esqueça de se apegar. Se esqueça de sacrificar, se esqueça de se alegrar. Se esqueça de entoar cânticos, se esqueça de dançar. Se esqueça de suas alegrias, se esqueça de suas tristezas. Se esqueça de pensar, se esqueça de se arrepender. Se esqueça de viver. Se esqueça de que um dia irá morrer.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Um alguém qualquer

Ele chorava desesperado. Seus gritos ensurdeciam apenas a ele mesmo, e os altos brados paravam nas paredes. Em seu peito aquela parte, há muito tempo sem uso, agia descontroladamente igual seu dono, mas por mais que se agitasse, por mais que pedisse, o socorro parecia não vir. Permanecia aquele fétido odor. A podridão começava consumir não apenas o ar, mas todo cenário ao seu redor. E, de todos os lados vinham vozes que o seduziam com palavras de morte. Ele continuava a gritar. Aquele corredor desértico por onde andara parecia, mais do que nunca, intransponivel. Um velho guia, jamais lido, e uma faca eram tudo o que lhe deixaram neste caminho, mas não havia volta, aliás, nunca houve. O haviam enganado. Disseram que por este caminho, conhecido por tempo, haveriam muitas opções, e que todas o agradariam, e se ainda assim não quisesse, era apenas dar meia volta, e poderia continuar fora dele. Mas nunca fora assim. A cada escolha não pensada era julgado sem misericórdia. A cada passo suas consequências o sufocavam mais, e mesmo sem querer prosseguir, os passos aconteciam. O caminho andava por si só. Insuportável, qualquer fim seria melhor do que permanecer ali. Mirando através de lágrimas seus próprios pulsos, buscou uma artéria fatal. Cerrando os olhos e a boca, atravessou a lâmina sem dó. Um grito. Duas dores. Alguém chorava junto a ele, mas não se sabia de onde vinha. O corte era profundo, mas não sangrou. Do antigo livro jorrava um sangue puro, um sangue limpo. Era vermelho, um vermelho tão intenso que jamais fora visto, mas não cheirava morte, cheirava sofrimento. Num instante as vozes se calaram, o caminho se estreitou, mas não mais o sufocava. O odor sumira, mas não a perseguição. Sentia-se pressionado, mas não mais pela morte e sim pela vida. Estava livre. Ele, de alguma forma, morrera naquele momento, mas seu coração palpitava tranquilo. Ele entendeu. O preço de sua paz foi a morte, mas não a dele.

domingo, 17 de outubro de 2010

Glória em poder, glória em morrer.

Levados pela cultura, pelas tradições, acreditamos que o poder e o comando pertencem aos intocáveis. Crescemos achando que poucos estão acima de muitos e que isso se chama glória. Desde crianças somos educados a respeitar os poderosos, e isso é justo, mas ao mesmo tempo sabemos que estes não serão recíprocos. Mas será esta a verdade? Serão os lideres e poderosos tão distantes? Néscios, a maior responsabilidade recai sobre seus ombros. Vivem suas vidas achando-se superiores aos demais, acreditando que essa é uma característica intrínseca à sua identidade, quando na verdade o único que obtém esta condição entregou sua vida pelos demais.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Vivo ensinando o que peço: ensina-me vivendo

Estou exausto, estou cansado. A comodidade se tornou fatal.
Nos somos intitulados pensantes, uma sagacidade errônea, visto que outorgante e outorgado são a mesma criatura. Hipocrisia aflorada em rostos tingidos de um cinza pútrido, mentes estagnadas em seu próprio ego, e alheias ao próprio perecer. Ainda assim acreditam irracionalmente que detêm a razão e o conhecimento. A humildade se tornou uma qualidade extinta, mesmo que alguns a vejam na pobreza. Qual seria o glamour desta majestosa caracteristica, se sinonimasse à tão baixa classe? Não haveria tamanha honra se não fosse, por definição, sua antagonia. Tão contrário que muitos levarão à cova a ignorancia de seu verdadeiro significado. A humildade é rica. É enxergar a si mesmo, entre bilhões. É alegrar-se em cada virtude adquirida, e evergonhar-se de cada defeito. É esbravejar elogios, sem, mesmo em segredo, esperar retribuições. É se contentar com a vitória e a conquista da justiça, mesmo que contra si mesmo. É reconhecer o erro, não apenas com os lábios, mas com atitudes. É não desistir, nem do outro, nem de si. É perdoar, ainda que as próprias falhas. É amar sobre tudo o próprio amor. É contemplar com carinho a imperfeição dos demais, mas se inquietar com as suas. É não compreender o sentido destas palavras, mas tão somente vivê-las.
Num mundo humilde, com habitantes humildes, cravados em pensamentos humildes, poderei enfim entender o que é a humildade.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A vida e seus números

Em meu contexto social, minha narrativa de vida, vejo não poucos individuos insatisfeitos. Uma realidade irônica, uma verdade insalubre. Cegos diante das evidentes divisões sociais, subtrações de ricas culturas, soma de dores e sofrimentos que é por si só raiz de todos os males, conjunto de fatores-problema, insistem em desprezar a matemática. Elegem matéria insana aquela que, com soberana maestria, rege sem cabresto a humanidade. Um show de variedades, um conjunto que tende ao infinito de caracteristicas moldadas uma a uma por números, um saber considerado, por tolos, inexprimivel. Mas o que há de tão misterioso, senão a cegueira inebriante dos homens? Insensatos! Continuam alheios àquela que sutilmente subtrai-lhes a vida.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Remido

Se não Te deixo agir, recaiam sobre mim as consequências. Se tapo meus ouvidos para a Tua voz, calem-se todo e qualquer sussurro de esperança. Se cego-me diante das Tuas maravilhas, que viva em trevas por toda eternidade. E ciente da minha natureza me rendo, e prostrado não ouso levantar a voz, mas Tú podes ouvir meu espírito clamando: Não deixe jamais de me buscar! Clamo por um começo santificado, Tú que és o inicio, e sacrifico toda tortuosidade em meu viver, Tú que és o fim.

domingo, 3 de outubro de 2010

Sem sentido

Colorido, impiedoso, negro como a incerteza brilhava o céu à minha frente.
Chuvoso, inabalavel, se aproximava o horizonte sem receio.
Destruidor e amoroso, vinha até mim sem pressa o futuro.
Quem poderá entender a história? Quem encontrará a certeza destas palavras?
Busco ainda minha inspiração, um fôlego desperdiçado.
Transbordo desejo, mas foge-me o saber.
Escorrem de mim os sentidos, e ainda que são já não posso ver.
Me sou poderoso, ainda que enganoso.
Me sou tedioso, ainda que honesto.
Me sou louco, ainda que completo.
Me sou eu mesmo, ainda que ninguém.
Ocultado está seu significado, invisivel, inaudivel.
Jamais será interpretado senão pela boca do profeta.