domingo, 11 de dezembro de 2011

Um sobre a volta.

Volta e meia, meia volta. De volta à volta. Uma volta é nada. Lembrando agora dos momentos que não tive, corro em busca de um sentimento perdido. Um sentimento que nunca existiu. Me embaraço nesse abraço invisível. Para o mundo, só, para mim, tudo. E não ouso encarar nos olhos aquele que me deu a vida. Aquele que soma segundos de desconhecimento à fatídiga vida de seu servo. Tudo por amor. Apunhalado, perdoou. Pendurado, sorriu. Desprezado, amou. Morto, reviveu. No ínicio sabe, e soube, e saberá, e seu amor o guia por caminhos que já percorreu. Suas lágrimas escorrem pelas páginas filhas de seu próprio punho. A vitória permanece. Seu coração se regozija em ver a história seguir. Seu amor nos deu escolha, porque Ele é o amor. E afastados, ele sabe, não o conhecemos. De longe é espectador, de perto, auxiliador. O guia eterno dos enigmas virais deste plano. Para bem, para mal, minha escolha é fruto do seu amor. E se me perco, é amor. Se me encontro, também. Porque o amor liberta, e libertou, e libertará. E essa liberdade é cara. Hoje sou livre. Livre para seguir por mim. Livre para sofrer e morrer. Livre para escolher. Porque no início o início soube, e sabe, e saberá, e quis, e me quis, e escolheu me deixar. Não abandonando-me, mas amando-me. E seu poder limitou, para que eu o escolhesse, e nele me resgatasse. Porque soube, e sabe, e saberá.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Um sobre arrependimento.

Novamente aqui. Ali. Cercado por um horizonte que ainda se aproxima, paulatinamente revelando a imensidão que esconde, sucumbindo lembranças e tomando as passadas finitas do relógio deste século. O que vem me é revelado na forma de espera. A confiança, e apenas ela, me é pedida, e nem isso consigo dar. Meus olhos se dispersam em meio ao cenário. Confusão. É assim que descrevo o quebra-cabeças perfeito que me foi proposto desde o nascimento. Continuo espalhando as sementes que tenho, daquilo que enchi o bornal do meu coração. Minhas palavras profanam o Santo Nome, daquele que chamam de o Deus desconhecido. Daquele que quer ser revelado. Meu coração chora em alta voz a cada tropeço, e soluçando meu espírito se abate diante de um inimigo desprezível. A espera continua, pois nada foge do propósito para o qual fomos destinados. Meus passos errantes foram todos contados, e me guiarão, assim quero crer, para diante do meu Advogado. Aquele cujas costas padeceram o meu castigo. Aquele que com sangue comprou o sorriso com o qual o traio. Não mais.

domingo, 9 de outubro de 2011

Um sobre a chuva

Por alegria ou por tristeza, a chuva é um choro incontido daquela que passa despercebida todos os dias. Um fascinante poema que se lê com o coração. São versos espalhados ao vento, formando estrofes em forma de espelhos pela calçada. Há quem reclame, há quem não goste de molhar o tênis, assim como também há quem não veja beleza em rostos sem maquiagem, nem no cabelo despenteado de uma mãe que trabalhou o dia inteiro pelo sorriso do filho. A beleza e o romance da chuva não está no passeio desmarcado, mas sim no reflexo singular que cada gota da chuva transmite. Mas quem brinca com a chuva? Seus versos trazem risos e choros. Em dois universos distintos a chuva dá e a chuva tira. Canta num ritmo descompassado nos telhados, mas ruge rasgando o céu, com instantes de traços luminosos. Essa é a magia desse incrível espetáculo: a representação artistica da criatividade e beleza de Deus sem desprezar seu poder e glória.

sábado, 20 de agosto de 2011

Mais um sobre perdão

E nas rimas da natureza, vejo as metáforas divinas. Palavras sussuradas pelo vento, cantam em meus ouvidos grandezas impronunciáveis. E o maior deles é o Amor. Mais profundas que o mais estático olhar são as belezas que ainda não encontrei. Meu coração está gelidamente acelerado, e meu espírito queima parado. Quero, espero, tento, erro, são verbos que estão fatalmente intrínsecos ao meu ego, e apenas fora deste tecido poderei vislumbrar vocabulário maior. Minha justiça afasta minha gratuita alegria, e meu julgo é ingrato. Estou fadado a um ponto-final obscuro, mas o Amor me alcançou e me amor, e me algemou, e me acorrentou, e me escravizou, e me subjulgou, e me aprisionou perpetuamente, e a liberdade está nisso: em poder finalmente ser o que fui criado para ser.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Nós

E esses fiapos de borracha que invadem meu caminho até aqui, dispostos de maneira aleatória no borrão branco em meu passado. Águas cristalinas me esperam adiante, e já tenho sede. Esse calor que me aquece em tempos de inverno faz de mim uma labareda glacial, onde já não mais paro no frio, mas prossigo um aquecido passo de cada vez. Saudade de sua voz me afagando os cabelos, e do seu olhar sob o qual o imenso tapete gramejado se estende. Saudade daquelas manhãs, e daquele sol que não queima. Recolho os cacos de memórias e formo meu mosaico de sorrisos. Minha mente se mantém trabalhando incessantemente, enquanto meu corpo se descansa. Este é um caminho tranquilo, não mais existe a distância, nem quero que volte, mas as pegadas são impressas juntas, numa ordem singular. Esse empirismo crescido já dá cambalhotas, e pouco me importo. Nesse caminho não existem dúvidas nem eu, mas tão somente nós. E a cá volto, à fase provatória de um sanatório insâno, onde muitos se acham doutores, mas o verdadeiro doutor nos é louco.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Mãe

Folhas secas, galhos secos, tons de dourado burrifados por toda a planicie. Ao derredor o horizonte se mostra cada vez mais perto. Arterias e veias traçam em alto relevo um retrato do tempo na pele cada vez mais fina de mãos tão queridas. Pequenas manchas nos guiam nas esguías estradas da memória, e nos mostram com clareza retratos aveludados do fraco que um dia foi forte. Não há piedade no tempo, não há misericórdia, tirando lentamente os segundos que jamais dará de volta. Um sorriso, e num lapso retorno para mergulha nos olhares de amor do presente. Seus lábios se movem lentamente, sem pressa, e longe ouço risadas que sem saber acompanho no ritmo. Seus braços me envolvem e só desperto para sentir o beijo que molha minha bochecha. Outro olhar e navego de volta ao passado. Ela era forte, alta, tão rápida. Tinha sempre uma solução para tudo. Mais palavras, e os lábios continuam dançando num ritmo desconhecido. Em mim um desejo de parar o tempo, desejo que nada faz a não ser derreter de meus olhos, e me lembrar que nada pode contra o tempo. Se é assim, que seja, afinal, um dia terei as mesmas tatuagens nas mãos, e minhas manchas serão guias para outrém. E, quando se for, certamente velejarei no mesmo barco, e nos encontraremos numa terra onde o tempo nada será senão lembrança.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dois poemas de xadrez

Bom, nunca foi minha intenção transcrever aqui poemas de outrém, mas percebi que nem mesmo o google encontrou estes. Então fica com vocês um pouco do que é o xadrez.


"Em seus soturnos cantos, os jogadores
movem lentas peças. O tabuleiro
os atrasa até a aurora, em seus severos
contornos, onde se odeiam duas cores.
Dentro irradiam mágicos rigores.
As formas: homérica torre, rápido
cabalo, rainha armada, rei atrás,
bispo oblíquo e peões agressivos.
Quando os jogadores se forem,
quando o tempo os tenha consumido
certamente não terá cessado o rito.
No oriente se acendeu esta guerra,
cujo o palco é hoje toda a terra.
Como o outro, este jogo é infinito.
Tênue rei, dissimulado bispo, guerreira
rainha, torre direta e peão ladino
sobre o preto e o branco do caminho
buscam e livram sua batalha armada.
Não sabem que a mão marcada
do jogador governa seu destino,
não sabem que um rigor adamantino
sujeita seu arbítrio e sua jornada.
Também o jogador é prisioneiro
(a sentença é de Omar) de outro tabuleiro
de noites pretas e brancos dias.
Deus move o jogador, e este, a peça.
Que deus atrás de Deus o enredo inicia
de pé e tempo e sonho e agonia?" (Jorge Luis Borges)

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O xadrez e a guerra

Os cavalos articulam
uma leve inclinação;
Os bispos, altaneiros,
esperam com precaução.
O rei saúda suas torres
e a artilharia menor
revisa com impaciência
sua melhor colocação.
A rainha branca, zelosa,
ao rei declara amor,
deve estar sempre próxima,
para lhe dar proteção.
Em frente, seus oponentes
ultimam as operações;
suas cores são distintas
mas não seu coração.
Um soldadinho valente
avança em sua posição,
Deixando atrás o monarca
que lhe dá aprovação.
A rainha negra, coquete
ao bispo pede opinião,
românica insinua
que comece a ação.
Um cutucão no soldado
duas casas avançou,
A sua espada sorri
o peão do outro bando.
É um combate de morte,
de força e precisão,
em uma guerra perfeita
onde o ódio e a dor
se convertem em beleza,
sonho, aventura e amor. (Antonio López Manzano)

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López Manzano, Antonio. O xadrez dos grandes mestres: 400 conselhos para melhorar seu nível enxadrístico; trad. Abrão Aspis. Porto Alegre, Artmed, 2002.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Antes

Rugas, cores, expressões e a falta delas, são marcas e sinais de um atributo implacável da vida. Como inimigo é cruel, toma a força, toma o vigor. Te enverga e castiga em dores. De alguns rouba o sorriso, de outros a vontade. Mas é também sábio conselheiro. Ninguém deste plano te ensina mais do que o tempo. Nos molda a vida sem permissão, e sem pressa nos ensina lições duras de aprender. Caminha contigo na sua velocidade, não te apressa, não te atrasa, simplesmente te acompanha, e vê de perto intrigas e dramas que insistimos em culpá-lo por. Como amigo te é engraçado. Prega peças e zomba com uma ironia inocente da nossa fustigada ignorância. Detém um humor estranho, é preciso aprender a apreciá-lo. Mas o tempo não é simples. Tê-lo como amigo vai além de aceitá-lo e permiti-lo te ser íntimo, é preciso compreendê-lo. Uma vez compreendido, te presenteia com tranqüilidade. Muitas vezes não sabe te dar carinho, mas te traz quem o saiba. É ele quem te apresenta as pessoas que te ajudarão para o resto da vida, mas também aponta as que você não deve se achegar. Na ingenuidade, muitas vezes ignoramos essa advertência, e insistimos em nos assentar com estes, mas, pacientemente, o amigo tempo nos exorta e os afasta. Então porque choramos? Porque é bom, e isso o amigo tempo me ensinou: Porque só há lágrima onde há Amor. E o Amor foi quem ensinou ao tempo a nos guardar, pois o Amor é maior que o tempo. De fato, ninguém escapa do tempo, mas antes do tempo era o Amor, e não há antes para o Amor. Sem o Amor, nada do que existe se fez.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

De volta à vida

De volta à vida, girando num carrossel desse parque alucinante que me aprisiona impuro, estou aqui. Mas pisco, e já não estou mais. Uma luz me pinça para dentro dos meus pensamentos, e de perto vislumbro ideias que há muito foram concebidas, mas que permanecem amontoando a estante da teoria, enquanto a da prática continua empoeirada. Prossigo, e vejo pessoas. Elas sorriem, acenam, seus lábios se movem como um video sem áudio, seus gestos estão limitados por um ambiente iluminado e festivo, mas formal demais. Paredes elegantemente decoradas em tom de vinho nos cercam de maneira acolhedora. Não me dei conta, mas estou num salão. As idéias ficaram no quarto ao lado, mas a sensação é a mesma. Aquelas pessoas as estão alimentando. Todas sorrindo. Não mais. As luzes se apagam, mas ainda é possivel ver aquelas acusações me atravessando como flechas que, sem misericórdia, são disparadas contra mim. Caras fechadas são tudo que me resta agora, e os ataques continuam em minha direção. Palavras inaudíveis nunca doeram tanto, mas são verdade. Minha prática não condiz com minhas palavras e eu sempre soube disso. Esse pensamento me estilhaça e meu espírito sucumbe. Ajoelhado, recolho cada uma das acusações, e as guardo com estranho empenho. São cicatrizes que não quero que sarem. Guardo todas numa caixinha, e a envolvo com um laço de posse. Uma mão se estende para me levantar. Ao redor a sala está vazia, aliás, não há sala. O ambiente branco me atrapalha de enxergar a pequena criança que me ajuda. O pequeno filho, eu diria. Com carinho ele toma das minhas mãos a caixinha que guardo com tanto esmero. "Isso não te pertence mais", foram as primeiras e últimas palavras que ouvi desse filme mudo, quando abro os olhos e estou de volta à vida.

"Agradeço a Deus pela vida do meu amigo Foguinho, o qual foi com certeza um pequeno canal para que a pequena criança pudesse me levantar [mais uma vez]"

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Do lado de cá

Caminho o caminho, na direção oposta à multidão. Sigo em frente por uma semana, num gás frenético, uma alucinação constante que se intercala em risos e choros. Sigo em frente. Comigo um povo, um pequeno povo. Mas um povo. Uma cultura diferenciada, que não se difere nas roupas, ou na língua. Não se difere em traços físicos ou comida. Se difere nos sentimentos e no pensamento. Um povo saciado que vive uma alegria perpétua. Um povo que está no meio de outros povos. Um povo que ainda assim não perde sua idêntidade. Um povo que amo, um povo que admiro. Um povo o qual todos nascem fora. Um povo que conquista na multidão seus indivíduos. Um povo mesclado, um povo eclético. Uma familia que nasceu separada. Traços que definem o carater são as únicas semelhanças entre esses. Um caráter cantado lá atrás. E nesse turbilhão me diferencio, não como o melhor, nem como o pior, mas como eu mesmo. Pois a igualdade em valor, altura, posição jamais tirará nossa peculiaridade. Cada um de nós, especial e único, assim como todos os outros. E esse paradoxo jamais será compreendido por alguém de fora do povo. Pois somos um povo santo, um povo eleito. Fomos escolhidos no nascimento, e nosso chamado se concretizou quando decidimos fazer parte do povo.

Hoje retorno do sonho, do um sonho de uma semana. Hoje acordo na realidade onde meu espírito se abate e meu ego milita incessantemente contra minha felicidade. Meu sorriso encontra um inimigo cruel, que não se detêm no choro e se sacia na minha solidão. Mas ainda tenho meu povo, ainda tenho meu Pai, e a mais longa distância que pode haver entre mim e Ele é a distância da decisão de amar.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Uma passagem sobre eles...

Sonho em ser um herói. Desconheço o meu passado, mas sigo visando o futuro, e dele traço, não meu passado, mas um projeto dele. Um projeto que não se realizou, mas que continua alimentando a esperança em mim. Um projeto de idêntidade, onde me encontro. Tenho em mim a convicção de um erro mortal, mas também a libertação que somente com sangue se pode comprar. Sei que não sou perfeito, afinal, o que sou? Mas sei também que ninguém o é. E isso não é consolo, é aviso. Não sou como aqueles (dos quais o mundo não era digno), mas sigo rumo ao meu alvo buscando oscilantemente um refrigério para essa alma errante. Provavelmente não o verei, assim como eles não viram, mas quem sou eu para reclamar algo? Afinal, novamente, quem sou eu? Se abuso de uma força não minha, uma misericórdia nova a cada dia, e amo com um amor que não é meu, como posso não ser, sendo? E esse turbilhão me ilumina: Não sei quem sou, pois não sou, mas sei em Quem sou, pois fui criado para ser.