sábado, 28 de setembro de 2013

Um sobre tristeza

Eu já fui diferente. Já soube amar, soube conquistar. Acreditei que querendo podia moldar e mudar todas as coisas. Achei que sabia sonhar... e transformar meus sonhos em realidade. Já me dei e doei. Já me apaixonei. Descobri o que é loucura, senti o que é a ternura. Soube ser grande... e também ser pequemo. Amei com inocência e descobri na ingenuidade a mais sincera demonstração de afeto. Já fui louco e, em pensamento, voei até o berço do sol, só para ver o sorriso de alguém.

Hoje acordei e, no abrir de meus olhos, a experiência penetrou em meu ser pelas janelas da alma. Descobri a verdade. Descobri a dor. Vi que quanto maior o sonho, mais alta é a escada da realidade e seus degraus são frágeis e traiçoeiros. Aprendi que algumas coisas nunca mudam e que com a expectativa vem a frustração. Vi, diante de mim, ruir meu castelo de sonhos e, com seus tijolos, se edificou a masmorra da ilusão. Descobri que o amor não brota sozinho e que precisa ser regado. Descobri que seu predador natural é a amargura, só não descobri ainda a cura. Fui radiante, hoje sou sombra. Fui poeta, hoje sou um andarilho perdido no eterno caminho das palavras.

[Este já tem alguns anos, mas nunca havia postado. Hoje encontrei ele por ai.]

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Um sobre... mim.

Onde estás, Altíssimo? - pergunta minha'lma. Assim tal salmista desce novamente dos picos altaneiros aos abismos da existência humana. Não era assim. Em prantos e soluçando os gritos de socorro não são ouvidos senão pelo Criador. Aparentemente me tornei tão surdo que não ouço meu próprio resgate. Que fiz eu com o pagamento de sangue? Que fiz eu para me esquecer do resgate tão penoso que ofereceu meu melhor amigo por esta minha vida desprezível? Não, não fui desprezado. Nunca fui. Ainda assim não valho frações da quantia que diariamente não me importo. Dentro de mim, angústia. Angústia tal que torna pesado os músculos da face, e não se encontra em mim sorriso algum. Espírito meu, vivifica! Brilhe a luz que não é sua! Recomponha-se em detrimento dessa carne temporária. Meu espírito clama, clama incessantemente por um alívio na Tua presença, ó Deus meu! Aquele por quem fiz juras de amor e não fui capaz de cumprir nenhuma delas. Aquele que permanece insondável. Clamo por uma razão eterna. Clamo por um refrigério intangível, onde não precisarei temer a mim mesmo.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Um sobre esse sentimento novo

Cerro meus olhos involuntariamente. O piscar se tornou um processo lento hoje. Estou traçando uma ilustração mental do celeste céu que se apresenta a mim. Todas as manhãs vejo estrelas. Todas as tardes a lua impera de maneira singular. A noite não é mais escura e o dia não mais de excessivo calor. O mar adquiriu outro significado. Distância deixou de ser medida em metros. Cada segundo se tornou quilômetros. Descobri que nos olhos se encontram os mais profundos labirintos, e que é gostoso me perder neles. Descobri que calor sentimos de dentro para fora, e não o contrário. Senti minutos horários de devaneios tornarem-se um épico embate virtual, cujo resultado se converge à própria existência. Nunca houve alguém que entendesse esse pulsar descompassado. São enigmas trazidos por esse novo ser, que em seu determinado tempo decidiu não caber mais no peito. Sim, é a nostalgia de tempos que não foram. A saudade de momentos que não tivemos. Agora sim, finalmente minhas pálpebras se erguem lentamente, arquitetando a próxima piscadela, e com ela minha passagem de volta ao interior desse sentimento, até então, desconhecido. (R)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Um sobre a volta.

Volta e meia, meia volta. De volta à volta. Uma volta é nada. Lembrando agora dos momentos que não tive, corro em busca de um sentimento perdido. Um sentimento que nunca existiu. Me embaraço nesse abraço invisível. Para o mundo, só, para mim, tudo. E não ouso encarar nos olhos aquele que me deu a vida. Aquele que soma segundos de desconhecimento à fatídiga vida de seu servo. Tudo por amor. Apunhalado, perdoou. Pendurado, sorriu. Desprezado, amou. Morto, reviveu. No ínicio sabe, e soube, e saberá, e seu amor o guia por caminhos que já percorreu. Suas lágrimas escorrem pelas páginas filhas de seu próprio punho. A vitória permanece. Seu coração se regozija em ver a história seguir. Seu amor nos deu escolha, porque Ele é o amor. E afastados, ele sabe, não o conhecemos. De longe é espectador, de perto, auxiliador. O guia eterno dos enigmas virais deste plano. Para bem, para mal, minha escolha é fruto do seu amor. E se me perco, é amor. Se me encontro, também. Porque o amor liberta, e libertou, e libertará. E essa liberdade é cara. Hoje sou livre. Livre para seguir por mim. Livre para sofrer e morrer. Livre para escolher. Porque no início o início soube, e sabe, e saberá, e quis, e me quis, e escolheu me deixar. Não abandonando-me, mas amando-me. E seu poder limitou, para que eu o escolhesse, e nele me resgatasse. Porque soube, e sabe, e saberá.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Um sobre arrependimento.

Novamente aqui. Ali. Cercado por um horizonte que ainda se aproxima, paulatinamente revelando a imensidão que esconde, sucumbindo lembranças e tomando as passadas finitas do relógio deste século. O que vem me é revelado na forma de espera. A confiança, e apenas ela, me é pedida, e nem isso consigo dar. Meus olhos se dispersam em meio ao cenário. Confusão. É assim que descrevo o quebra-cabeças perfeito que me foi proposto desde o nascimento. Continuo espalhando as sementes que tenho, daquilo que enchi o bornal do meu coração. Minhas palavras profanam o Santo Nome, daquele que chamam de o Deus desconhecido. Daquele que quer ser revelado. Meu coração chora em alta voz a cada tropeço, e soluçando meu espírito se abate diante de um inimigo desprezível. A espera continua, pois nada foge do propósito para o qual fomos destinados. Meus passos errantes foram todos contados, e me guiarão, assim quero crer, para diante do meu Advogado. Aquele cujas costas padeceram o meu castigo. Aquele que com sangue comprou o sorriso com o qual o traio. Não mais.

domingo, 9 de outubro de 2011

Um sobre a chuva

Por alegria ou por tristeza, a chuva é um choro incontido daquela que passa despercebida todos os dias. Um fascinante poema que se lê com o coração. São versos espalhados ao vento, formando estrofes em forma de espelhos pela calçada. Há quem reclame, há quem não goste de molhar o tênis, assim como também há quem não veja beleza em rostos sem maquiagem, nem no cabelo despenteado de uma mãe que trabalhou o dia inteiro pelo sorriso do filho. A beleza e o romance da chuva não está no passeio desmarcado, mas sim no reflexo singular que cada gota da chuva transmite. Mas quem brinca com a chuva? Seus versos trazem risos e choros. Em dois universos distintos a chuva dá e a chuva tira. Canta num ritmo descompassado nos telhados, mas ruge rasgando o céu, com instantes de traços luminosos. Essa é a magia desse incrível espetáculo: a representação artistica da criatividade e beleza de Deus sem desprezar seu poder e glória.

sábado, 20 de agosto de 2011

Mais um sobre perdão

E nas rimas da natureza, vejo as metáforas divinas. Palavras sussuradas pelo vento, cantam em meus ouvidos grandezas impronunciáveis. E o maior deles é o Amor. Mais profundas que o mais estático olhar são as belezas que ainda não encontrei. Meu coração está gelidamente acelerado, e meu espírito queima parado. Quero, espero, tento, erro, são verbos que estão fatalmente intrínsecos ao meu ego, e apenas fora deste tecido poderei vislumbrar vocabulário maior. Minha justiça afasta minha gratuita alegria, e meu julgo é ingrato. Estou fadado a um ponto-final obscuro, mas o Amor me alcançou e me amor, e me algemou, e me acorrentou, e me escravizou, e me subjulgou, e me aprisionou perpetuamente, e a liberdade está nisso: em poder finalmente ser o que fui criado para ser.