segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Um alguém qualquer

Ele chorava desesperado. Seus gritos ensurdeciam apenas a ele mesmo, e os altos brados paravam nas paredes. Em seu peito aquela parte, há muito tempo sem uso, agia descontroladamente igual seu dono, mas por mais que se agitasse, por mais que pedisse, o socorro parecia não vir. Permanecia aquele fétido odor. A podridão começava consumir não apenas o ar, mas todo cenário ao seu redor. E, de todos os lados vinham vozes que o seduziam com palavras de morte. Ele continuava a gritar. Aquele corredor desértico por onde andara parecia, mais do que nunca, intransponivel. Um velho guia, jamais lido, e uma faca eram tudo o que lhe deixaram neste caminho, mas não havia volta, aliás, nunca houve. O haviam enganado. Disseram que por este caminho, conhecido por tempo, haveriam muitas opções, e que todas o agradariam, e se ainda assim não quisesse, era apenas dar meia volta, e poderia continuar fora dele. Mas nunca fora assim. A cada escolha não pensada era julgado sem misericórdia. A cada passo suas consequências o sufocavam mais, e mesmo sem querer prosseguir, os passos aconteciam. O caminho andava por si só. Insuportável, qualquer fim seria melhor do que permanecer ali. Mirando através de lágrimas seus próprios pulsos, buscou uma artéria fatal. Cerrando os olhos e a boca, atravessou a lâmina sem dó. Um grito. Duas dores. Alguém chorava junto a ele, mas não se sabia de onde vinha. O corte era profundo, mas não sangrou. Do antigo livro jorrava um sangue puro, um sangue limpo. Era vermelho, um vermelho tão intenso que jamais fora visto, mas não cheirava morte, cheirava sofrimento. Num instante as vozes se calaram, o caminho se estreitou, mas não mais o sufocava. O odor sumira, mas não a perseguição. Sentia-se pressionado, mas não mais pela morte e sim pela vida. Estava livre. Ele, de alguma forma, morrera naquele momento, mas seu coração palpitava tranquilo. Ele entendeu. O preço de sua paz foi a morte, mas não a dele.

2 comentários:

  1. que DEMAIS !!!! =O
    amei o texto sam ... "O preço de sua paz foi a morte, mas não a dele" !!!!!!!

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  2. uhuul! vlw Sô! Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas! ^^ bjão!

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