quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dois poemas de xadrez

Bom, nunca foi minha intenção transcrever aqui poemas de outrém, mas percebi que nem mesmo o google encontrou estes. Então fica com vocês um pouco do que é o xadrez.


"Em seus soturnos cantos, os jogadores
movem lentas peças. O tabuleiro
os atrasa até a aurora, em seus severos
contornos, onde se odeiam duas cores.
Dentro irradiam mágicos rigores.
As formas: homérica torre, rápido
cabalo, rainha armada, rei atrás,
bispo oblíquo e peões agressivos.
Quando os jogadores se forem,
quando o tempo os tenha consumido
certamente não terá cessado o rito.
No oriente se acendeu esta guerra,
cujo o palco é hoje toda a terra.
Como o outro, este jogo é infinito.
Tênue rei, dissimulado bispo, guerreira
rainha, torre direta e peão ladino
sobre o preto e o branco do caminho
buscam e livram sua batalha armada.
Não sabem que a mão marcada
do jogador governa seu destino,
não sabem que um rigor adamantino
sujeita seu arbítrio e sua jornada.
Também o jogador é prisioneiro
(a sentença é de Omar) de outro tabuleiro
de noites pretas e brancos dias.
Deus move o jogador, e este, a peça.
Que deus atrás de Deus o enredo inicia
de pé e tempo e sonho e agonia?" (Jorge Luis Borges)

-------------------------------------------------------

O xadrez e a guerra

Os cavalos articulam
uma leve inclinação;
Os bispos, altaneiros,
esperam com precaução.
O rei saúda suas torres
e a artilharia menor
revisa com impaciência
sua melhor colocação.
A rainha branca, zelosa,
ao rei declara amor,
deve estar sempre próxima,
para lhe dar proteção.
Em frente, seus oponentes
ultimam as operações;
suas cores são distintas
mas não seu coração.
Um soldadinho valente
avança em sua posição,
Deixando atrás o monarca
que lhe dá aprovação.
A rainha negra, coquete
ao bispo pede opinião,
românica insinua
que comece a ação.
Um cutucão no soldado
duas casas avançou,
A sua espada sorri
o peão do outro bando.
É um combate de morte,
de força e precisão,
em uma guerra perfeita
onde o ódio e a dor
se convertem em beleza,
sonho, aventura e amor. (Antonio López Manzano)

------------------------------------------------------------------------------------------
López Manzano, Antonio. O xadrez dos grandes mestres: 400 conselhos para melhorar seu nível enxadrístico; trad. Abrão Aspis. Porto Alegre, Artmed, 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário