quinta-feira, 2 de junho de 2011

Mãe

Folhas secas, galhos secos, tons de dourado burrifados por toda a planicie. Ao derredor o horizonte se mostra cada vez mais perto. Arterias e veias traçam em alto relevo um retrato do tempo na pele cada vez mais fina de mãos tão queridas. Pequenas manchas nos guiam nas esguías estradas da memória, e nos mostram com clareza retratos aveludados do fraco que um dia foi forte. Não há piedade no tempo, não há misericórdia, tirando lentamente os segundos que jamais dará de volta. Um sorriso, e num lapso retorno para mergulha nos olhares de amor do presente. Seus lábios se movem lentamente, sem pressa, e longe ouço risadas que sem saber acompanho no ritmo. Seus braços me envolvem e só desperto para sentir o beijo que molha minha bochecha. Outro olhar e navego de volta ao passado. Ela era forte, alta, tão rápida. Tinha sempre uma solução para tudo. Mais palavras, e os lábios continuam dançando num ritmo desconhecido. Em mim um desejo de parar o tempo, desejo que nada faz a não ser derreter de meus olhos, e me lembrar que nada pode contra o tempo. Se é assim, que seja, afinal, um dia terei as mesmas tatuagens nas mãos, e minhas manchas serão guias para outrém. E, quando se for, certamente velejarei no mesmo barco, e nos encontraremos numa terra onde o tempo nada será senão lembrança.

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